ZÉ: (Olhando a igreja) É essa. Só pode ser essa. (Rosa pára também, junto aos degraus, cansada, enfastiada e deixando já entrever uma revolta que se avoluma).
ROSA: E agora? Está fechada.
ZÉ: É cedo ainda. Vamos esperar que abra.
ROSA: Esperar? Aqui?
ZÉ: Não tem outro jeito.
ROSA: (Olha-o com raiva e vai sentar-se num dos degraus. Tira o sapato). Estou com cada bolha d’água no pé que dá medo.
ZÉ: Eu também. (Contorce-se num ritus de dor. Despe uma das mangas do paletó). Acho que os meus ombros estão em carne viva.
ZÉ: Eu também. (Contorce-se num ritus de dor. Despe uma das mangas do paletó). Acho que os meus ombros estão em carne viva.
ROSA: Bem feito. Você não quis botar almofadinhas, como eu disse.
ZÉ: (Convicto) Não era direito. Quando eu fiz a promessa, não falei em almofadinhas.
ROSA: Então, se você não falou, podia ter botado; a santa não ia dizer nada.
ZÉ: Não era direito. Eu prometi trazer a cruz nas costas, como Jesus. E Jesus não usou almofadinhas.
ROSA: Não usou porque não deixaram.
ZÉ: Não, nesse negócio de milagres, é preciso ser honesto. Se a gente embrulha o santo, perde o crédito. De outra vez o santo olha, consulta lá os seus assentamentos e diz: - Ah, você é o Zé-do-Burro, aquele que já me passou a perna! E agora vem me fazer nova promessa. Pois vá fazer promessa pro diabo que o carregue, seu caloteiro duma figa! E tem mais: santo é como gringo, passou calote num, todos os outros ficam sabendo.
ROSA: Será que você ainda pretende fazer outra promessa depois desta? Já não chega?...
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